DO ABALO À TRANSFIGURAÇÃO

O abalo que vem sofrendo a sociedade brasileira, tanto nos grandes centros urbanos como no campo, com a crescente investida da criminalidade endêmica, ultrapassa todos os limites de tolerância, raquitizando o organismo nacional e apequenando os seus governantes. Violência e impunidade são dois ingredientes excelentes para que medrem e se espreguicem as ameaças à democracia. Portanto, o momento dantesco que o Brasil experimenta, exige das autoridades e de toda a sociedade, uma resposta competente, imediata, forte, mas humanística, condizente com a índole do Estado democrático de direito.

Claro, o Brasil está entregue à sanha dos descontentes com a macabra convivência social. A delinqüência se enraizou em quase todos os setores da vida nacional. Hoje, em matéria de absurdidade, o que deveria ser exceção, é regra. A tarefa está em identificar-se a razão desses dois venenos, a violência e a impunidade, irmãs siamesas, máquinas trituradoras que engolfam o Estado brasileiro, estigmatizando, negativamente, a nacionalidade, e, então, combatê-los sem trégua, eficazmente. A impunidade (para muitos um desejo pétreo...), instalada desde os remotos tempos da conquista, e a inconseqüente obstaculização dos nossos sentimentos e desejos, parece estar mais forte do que qualquer instituição nacional, ou vem ocupando espaços que não se tem vontade política em ocupá-los, ou mesmo por incúria propositada das hienas que ganham com o bem-estar das irmãs siamesas.

É difícil governar. Sim, é muito difícil. Mas, é preciso. E tem que haver governo, autoridade, responsabilidade. Num Estado, entendendo-se que ele deve ser um serviçal do Direito, não se pode imaginá-lo inerte às investidas dos seus negadores mais cínicos, menos escrupulosos, de pouco siso. Pensemos, inclusive, na repercussão dos nossos desatinos em outras culturas desenvolvidas, nossos parceiros comerciais, investidores, turistas desta plaga e de alhures, etc. Será sempre um retrato negativo, contrário ao ideário do povo brasileiro. A escritora Lya Luft, revela-nos o seu sentimento: “Acredito em líderes com boa vontade e humildade, querendo ajudar à sua gente, usando para isso de seu preparo, informação, grandeza pessoal e valor. Em empresas onde funcionários e operários são tratados como gente, não apenas porque trabalhador bem tratado produz mais, mas porque somos todos irmãos. Talvez eu espere algo miraculoso. Mas, se a gente der um passo real na direção disso, terá valido a pena acreditar em si mesmo, no outro, na família, nos amigos e colegas, nos líderes, nos filhos e nos pais: não como perfeição, mas como esperança, grão de otimismo, vontade de algo melhor.” (“Pode ser melhor”, artigo publicado na Revista Veja, edição 1991-ano 40-nº 2, 17.01.2007, p. 20). É isso.

Os estamentos, principalmente o Congresso Nacional, Casa de ressonância dos anseios da nacionalidade, estão pensando as providências a serem efetivadas diante de quadro tão desolador. Esperamos que os legisladores e, principalmente, os aplicadores da lei, se imbuam das suas altas responsabilidades, no sentido de forjarem uma convivência social suportável. Vamos logicar, mas agindo com vigilância e competência. Claro, evidente, a “Grande Revolução” há de se iniciar com a nossa revolução interior (força centrípeta), como queria e pregava Khrisnamurti, o guru indiano de tantas gerações. Precisamos vencer o sismo moral, ético, espiritual, e nos transfigurar.

Mais vale o bom exemplo.

Luís da Velosa

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