ODISSÉIA NO INTERIOR DA MENTE

Agradecimento

Quando me dei conta daquela profunda escuridão; paz e silêncio também profundos; surgiu-me a pergunta – ao sentir que a luz ali estava presente, mas não se denunciava – o que é Deus? E aquela imensidão responde: “EU SOU”.

É justamente a você – Oh, luz! Que ofereço o meu trabalho – ínfimo perante a sua Grandeza.


Prefácio do autor


Há milhares de anos, a humanidade já repleta de experiências próprias e conhecimentos adquiridos uns dos outros, passou ao processo de questionamento e contestações sobre si mesma e todo o quadro apresentado em volta – isto é, começou a olhar intrínseca e extrinsecamente, já desconfiada da veracidade das informações alheias, e das suas próprias experiências que estavam lhe causando medo, arrogância e presunção; numa evidência de que um “eu falso” estava se implantando em sua consciência.

Havia o interesse vital, ainda que semi-desperto, de descobrir o que faria a eliminação do “eu” – sendo o “eu” a psique, o espírito, a memória com toda a experiência e informações acumuladas, desde os primórdios dos seres humanos, talvez, até mesmo conhecimentos nas células cerebrais, desde os primeiros seres vivos. Subjetivamente, já havia o interesse, embora não aflorado à consciência, da libertação do cérebro dos grilhões do condicionamento que torna o homem uma máquina propensa a cumpri-lo exoravelmente, assim como o escravo compelido pela autoridade do seu senhor. Sentia-se no âmago, algo enérgico, buscando a visão intuitiva. Como é compreendida hoje, a intuição é a energia pura provinda do vazio da mente cósmica, quando o cérebro conseguiu neutralizar o pensamento. Só com o cérebro em silêncio profundo, pode-se contactar com a “origem” – razão óbvia de tudo o que existe: o universo, a vida.

A revolução científica e tecnológica proporcionou condições altamente sofisticadas, mas, como tudo que é limitado, criou incríveis destruições e sofrimentos psicológicos, transformando a nossa vida em um “presente de grego”.

O homem hoje, pode conhecer profundamente tudo que as ciências e tecnologias têm conquistado, mas desgraçadamente nada ou muito pouco, sobre si mesmo, justamente a percepção autocognitiva, motriz da libertação dos conflitos da qual o homem tanto carece e dos quais é possível libertar-se radicalmente, se assim o quiser.

Com a visão intuitiva dirigindo as funções cerebrais, a regeneração das células nervosas tornam-se possíveis, se a degeneração foi provocada por questões emocionais. Se houve perda de massa cerebral por acidente, a recuperação e praticamente nula. O discernimento ou compreensão profunda do que quer que seja, impede qualquer implantação de conflitos. Compreende-se que o sofrimento é a ausência de compreensão. Em se compreendendo o que está a ocorrer, e não havendo reação, não haverá registro na memória, inibindo assim a busca de soluções. Somente o que não foi compreendido é registrado para posterior avaliação; e nessa busca de respostas, que nunca vêm, surge a insatisfação e o conflito.

A decisão de escrever este livro foi-me acentuada logo após a morte de um excelente amigo, com quem durante anos a fio, mantivemos por telefone, todos os dias, no horário das 20 às 21 horas, considerações metafísicas e das ciências exotéricas. Tínhamos por hábito ler autores que tratavam desses temas, e a noite discutíamos a este respeito. Lemos varias obras de Krishnamurti, Osho, Vernon Howard e outros. Tivemos o cuidado de vivenciá-las; coloca-las em prática, em nossas vidas pessoais, e acreditamos em ter constatado e intuído muito de suas verdades. Com esta convicção, pelo nível da qualidade com que pudemos usufruí-las subjetivamente, é que estou tentando passar a todos aqueles que se encontram desesperados, a chance magnânima de restabelecerem-se emocionalmente.

Quem efetivamente ler este livro com o carinho com o qual foi escrito, por certo, terá uma recompensa psicológica com a qual nunca sonhou.

Ao ler este livro, faça-o subjetivamente, procurando entende-lo nas entrelinhas, todas as suas mensagens.

Ao fazer uma varredura com a luz mental (auto-observação), através dos subterfúgios do cérebro, descobri quanta podridão havia dentro dele. Ainda tenho chorado inquisitivo esta descoberta impressionante, pois, o paradoxo entre esta e o quadro exuberante que fazia sobre a minha imagem, se constituía em um tremendo abismo. Não sei como não morri anojado; porém, o fato é que, a decepção sofrida com a suposta melhor pessoa do mundo despertou-me a visão real dos seres humanos – o único animal depredador da natureza.

Com total revolta pelo que o autoconhecimento milagrosamente me esclareceu, desiludi-me a respeito da minha realidade, tanto quanto das outras pessoas. O que me maravilha no entanto, é a capacidade tranquila, sem medo e sem ódio que se me apresentou, criando indubitavelmente uma tolerância profunda para com toda a humanidade – que sou eu mesmo.

Tudo aquilo que pode engrandecer ou denegrir está potencialmente em jazigo, dentro de cada ser humano, bastando tão somente oportunidades para acordá-lo. Ninguém é melhor ou pior do que qualquer pessoa, da mesma forma que um leão ou um rato são iguais aos leões e ratos em todo o planeta.

Os substitutivos do amor, infelizmente, estão por toda a parte.Vêem-se pessoas tirar do bolso importâncias vultosas para ajudar a outras. Desdobrarem-se em gentilezas extraordinárias, em aspectos vários. Estas coisas são muito fáceis de se apresentar quando se tem justamente a necessidade de exibir bondade, dignidade e altruísmo, sem perceberem que estão representando, tal suas carências de valor e necessidade de justificarem perante si mesmas e para a sociedade os seus remorsos, na ânsia de ficarem em paz com as suas consciências mórbidas.

Não é do bolso que deve doar, mas da consciência. Como não podem doar de si mesma renunciando as suas ambições, aos estatus sociais, a presunção ou de terem um diploma universitário que nada significa – em termos de dignidade e decência – então entregam-se a esta tradicional representação. Somos exímios atores no teatro da vida, tal como requer a arte.

ADVERTÊNCIA PARA A LEITURA DESTE LIVRO

Os sensórios são os meios pelos quais o homem pode efetivamente despertar a consciência altaneira, levando-nos a capacidade para mutação interior. Sabendo-se utiliza-los pela atenção consciente, naturalmente descobrimos a sua suprema eficácia. Mas, como toda proposta nova encontra uma costumeira rejeição, necessário se torna que os conceitos apresentados neste livro tenham a intenção de exterminar as questões conflitantes em todos os ângulos – tal como fotografias tiradas de um ambiente em que se precisa pesquisar - e assim, a sua pesquisa seja envolvida por afirmativas repetitivas quanto à atenção que se deva ter, quando da observação àquilo que se queira compreender e exterminá-lo.

Geralmente faz-se a leitura com a intenção, embora tácita, de aumentar-se o conhecimento intelectual. Isto, no entanto, é pernicioso porque estamos condicionando, cada vez mais a memória, programando-a.

Uma mente condicionada não é criativa. Torna-se mecânica, repetitiva.

A leitura deve ser feita com atenção, que é o estado de percebimento em que o pensamento está latente. Desta forma estar-se-á apto à aprendizagem, descobrindo-se nas entrelinhas e sentindo no âmago, a essência das mensagens nelas contidas.

Devemos ver a realidade, não a concepção que nos apraz. E quando isto ocorrer, quando se tiver, então, a capacidade de ver, sentir e ouvir com a atenção plena, nada mais será preciso fazer, porque a inteligência desperta é a luz que orienta o viver autêntico, e que a tudo dará sentido.

SUMÁRIO

Cap.01 - A mente confusa..................................................................
Cap.02 - O sentido do escapismo........................................................
Cap.03 - Somos um só espírito...........................................................
Cap.04 - A falácia dos “Eus”...............................................................
Cap.05 - Os princípios cósmicos..........................................................
Cap.06 - A ilusão do cérebro..............................................................
Cap.07 - A consciência particular cósmica............................................
Cap.08 - Compreensão e percepção....................................................
Cap.09 - As células especiais..............................................................
Cap.10 - A vida é consciência.............................................................
Cap.11 - O conhecimento psicológico...................................................



Odisséia no interior da mente

Capítulo 01


A MENTE CONFUSA


Tenho conversado em várias ocasiões com amigos, familiares e pessoas ao acaso nas ruas, acerca de problemas concernentes sobre o viver e o comportamento social, em todas as suas formas. Veio-me então, após vários anos a idéia de que deveria apresentar estes temas e uma extensão maior da coletividade, e, assim, pensei em escrever um livro no intuito de ganhar algo importante: o despertar total das nossas consciências com o exercitara a mente, levando-a de forma simples e tranqüila, a desabrochar do íntimo, todo o sentimento e aprendizado guardados e não compreendidos, desde a pré-história até os nossos dias atuais, quiçá do primeiro instante da criação do universo.

Com a vigília da mente, em várias ocasiões da vida, em determinados momentos, durante todos os dias, fui percebendo-me do porquê de os seres humanos estarem sempre em conflitos; assim compreendi a pesquisa de como poderia livrar-se dos mesmos, sem drama e sem luta, quando já condicionada a mente pela tradição e tão apregoada “sabedoria” dos ancestrais.

O conhecimento na pesquisa subjetiva é inviável, pois como veremos adiante, constitui-se na elaboração do pensamento – geradores e mantenedores dos conflitos. Não são o prazer, o desejo, o medo e o sofrimento originados e nutridos pelos nossos pensamentos? Quando se está experimentando uma sensação de dor ou prazer, não é o pensamento que está atuando? E se soubéssemos neutraliza-lo, o que aconteceria? E sendo os pensamentos originários dos conhecimentos não se tornam conclusivos, teorizando o que se experimenta, ao invés de pesquisá-lo? A teorização é fuga àquilo que se não quer enfrentar. É uma forma cômoda que se utiliza a mente para adiar a questão – como se diz vulgarmente: “empurrar com a barriga”.

Há algo de suma importância que me parece importante mencionar: os temas psicológicos estão de tal forma contidos uns nos outros que podemos até afirmar que a psicologia resume-se em apenas um aspecto: comportamento. Quando por exemplo se fala em amor, implica em falar do comportamento do ciúme, do ódio, da violência, da inveja, da ambição, inseridos na convivência a dois. Estas reações comportamentais, não negam veementemente, o amor? Claro está, que o amor nada tem de comum com elas. O amor transcende as reações; transcende a memória. O amor sobre o qual tanto se fala não é amor nenhum.

Tenho conversado com pessoas objetivando esclarecer-nos do porquê das expressões físicas e psíquicas, chamando a atenção para as distorções mecânicas da mente que tem compelido aos seres humanos a tomarem atitudes absurdas, compenetrada de estar agindo de forma coerente. Não desconfia sequer de estar repetindo o comportamento coletivo. Nas gesticulações e aspectos faciais vêem-se os esforços que se está fazendo para convencer e convencer-se de que seus pronunciamento de fato pode resolver as dificuldades em que se meteu, tal é o drama do homem, ao envolver-se socialmente.

Desde os primórdios da humanidade que os seres, suposta e presunçosamente chamados nacionais, tendo através dos séculos lutado desesperadamente pela sobrevivência física e psicológica, nada têm conseguido. Apesar dos avanços sofisticados na tecnologia, continua a humanidade tão infeliz como sempre fora. De nada lhe serviram as conquistas espaciais, o rádio, a televisão, o computador, as autoridades intelectuais, políticas e religiosas e até mesmo as ciências sanitárias. Estas quando de um lado sofisticaram-se no atendimento assistencial, a corrupção motivou-se, crescendo em quantidade as doenças e condições generalizadas a toda espécie de miséria, sem se falar das operações e tratamentos propositadamente realizados.

Psicologicamente, tem-se tornado o “ser racional” cada vez mais podre, hipócrita e covarde. Na sua esperteza, a que chama de inteligência, vem conseguindo transformar nosso planeta em um autêntico inferno. Na ânsia de escapar ao sofrimento o homem tem feito o que o “diabo duvida”: criaram-se todos os tipos de cultos às “autoridades” psicológicas e sociais,; livros sagrados apareceram e pessoas santas; homens deuses, ideologias e os mitos dos ídolos esportivos e artistas, que de importante só têm os altos salários e a capacidade de iludirem a gentalha que desgraçadamente morrem e matam por eles. Tudo enfim, mesclando o prazer e a dor, como mecânica escapista. Este hábito tornou-se uma obsessão e, inseriu-se nas células cerebrais, de tal maneira que automatizou o cérebro, levando-o naturalmente à procura do alívio nas coisas exteriores, e assim constata-se que o sentido de introspecção silenciosa, parece não mais existir nos genes, tendo perdido, por certo, o registro em códigos, ou na verdade, pelos truques da memória que sempre interferem com suas conclusões. Cada um dos seus sentidos físicos e metafísicos estando codificados nas células cerebrais permanecerá atuante ou não, a depender do cuidado que se tenha com a mente, em percebendo atenciosos a sua dinâmica – pensamentos e sentimentos que surgem no campo mental a todo instante. O autoconhecimento não nos vem pela análise intelectual, mas pela auto-observação silenciosa e exteriormente em volta de nós.

Esquecer a vigília é como tirar as mãos de um veículo, quando estamos dirigindo; essa atitude nos levaria a acidentes perigosíssimos; o mesmo acontece quando a mente desatenta aos movimentos do corpo deixa-o descuidado. Tem-se que estar atento ao organismo afim de preservá-lo; afinal a qualidade de vida prende-se a sua preservação, e para tal o estado atencioso é indispensável.

A mente está de tal forma voltada para o exterior que tem esquecido de si mesma, condenando-se a situações embaraçosas em tudo que inventa. Até mesmo a busca da verdade a destrói, por não se perceber que o insólito não pode ser encontrado. Só se procura o que se conhece, o desconhecido não tem com ser reconhecido. Se não conheço uma pessoa como posso identificá-la, mesmo que conviva comigo num ambiente social qualquer? Assim é a situação em que uma pessoa nos pede para encontrar algo perdido. Para que efetivamente possamos ir em busca da coisa procurada temos que nos informar a respeito do que seja, pois somente assim poderá identifica-la – o desconhecido não pode ser encontrado. Só se encontra o que está impresso na consciência. Ou seja, só podemos encontrar o que guardamos – no íntimo e no exterior. Não é a verdade que está perdida, nós é que estamos perdidos. Quando procuramos algo por certo ele já se encontra na consciência criado pelos nossos anseios, tal como gostaríamos que fosse; é mais um truque que a mente está nos pregando. Não podemos encontrá-lo pela busca. Temos que estar perceptivos, com a mente em silêncio e tranquila, pois, somente assim poderá revelar-se. Escolhemos os caminhos quando estamos confusos. Paremos, olhemos para os lados; percebamos nossa confusão, sintamos que estamos perdidos, e o caminho correto apresentar-se-á. Quem procura quer solução sem perceber que está criando problemas. Quando, porém, se está atento aos acontecimentos, sem envolver-se psicologicamente, não há como se criar problemas – pois justamente a ânsia de alterar é que se constitui na confusão. Em se deixando que os acontecimentos sigam o seu curso, naturalmente ocorrerá a diluição deles – pois não estando presente o pensamento para lhes dar continuidade, não terão como prosseguir.

É de estarrecer que a mente não destrua por si mesma todo o conhecimento psicológico (crenças, ideologias; todo o conhecimento não-factual ou imaginário). Que mistério envolve este aspecto tão simples, que seria a salvação do homem e de todo o sentido de viver? É por não ter descoberto isto, os seres humanos vivem para si e pra os outros um drama tétrico, imoral e insano. Que há por trás de tudo isto? Como se há de compreender? A felicidade às nossas mãos e a observamos como algo sem nenhuma importância. Necessário se torna que superstições ou ilusões sejam banidas da mente.

Não sei se já se aperceberam que, muitas vezes, ao termos abandonado um problema, a sua solução surge naturalmente e que a grande maioria das coisas que acreditamos ser necessárias são supérfluas e inconvenientes.

Compreendem os que intuíram – ser o conhecimento psicológico o nosso mal – que o verdadeiro ser humano nada precisa saber nem pensar, mas tão somente sentir silenciosamente em absoluta passividade o que está a ocorrer no mundo exterior e interior.

O homem é mágico, mas não tem consciência disso; possuindo tantas informações de segunda mão, adquiridas e propagandas escritas e faladas, que desenvolveu o hábito da acomodação, pela sutileza oculta de que ali está tudo o de que se precisa. Por influência também persiste o hábito da procura de algo eterno capaz de promover uma modificação profunda na mente. Essa coisa procurada pelo incentivo das ânsias, do medo e idéias congênitas ou adquiridas na convivência com os fatos, real e, assim, pela força do hábito, a falsidade se transformou, para a mente, em verdade. Não mais sabendo o que fazer, sem qualquer opção, mesma desconfiada, luta para acreditar que tem fé, implantando a idéia de que precisamos acreditar que acreditamos, tal é a insegurança mental imposta pelo hábito em negligenciar a contestação de tudo que se nos apresente. Aceitamos, como os mendigos, as esmolas de pessoas carentes, com problemas de consciência e autopiedade, ansiosas por autoprojeção e autopromoção, como se fossem realmente compassivas pelo sofrimento alheio. Esta é que é a grande tragédia da raça humana; perdida, tem que inventar uma saída ou fuga. Percebe que as diversas “crenças” têm provocado guerras, desentendimentos e degenerações, mas a comodidade continua se impondo, e assim matam-se em nome dos seus deuses, seus ideais, suas famílias, suas culturas, seus padrões de vida, com toda a naturalidade e “amor”. Assim, surge uma vida frustrante, repleta de objetivos contraditórios e sentimentos hostis, em caracteres recíprocos, numa competição desastrosa, cheia de perfídia e insídia, onde a esperteza dissimula a hipocrisia, a inveja, a violência e o medo da morte e do viver. Para esta vida miserável ainda se encontra justificativa, induzida pela idéia de se possuir uma individualidade imortal.Teme-se o fim da memória, após o sangue deixar de fluir, destruindo suas atividades cerebrais. Embora morrendo todos os dias – quando em sono profundo – não se tenha consciência alguma da personalidade ou memória do que se foi e do que se é. O mesmo acontecendo quando se perdeu o sentido por um trauma ou quando anestesiados para uma intervenção cirúrgica, o homem ainda pretende continuar sua desgraçada vida, em outra dimensão. Retornarmos apara a dimensão de onde viemos – que foi a “inexistência” – onde não há memória, de forma alguma, a mente se nega a aceitar, tal o seu apego e condicionamento à experiência sórdida que se tem feito sobre a terra. Somos a memória: acabando esta, é claro que perecemos também. É nesse término do “Eu” que se renasce para a unidade cósmica, cuja consciência transcende a realidade da memória.

Em não havendo medo ou ambições por uma vida melhor, compreender-se-á a beleza da não-existência, física e psíquica. Viemos do “nada” e voltaremos ao “nada”. Poucos podem sentir tamanha beleza e imensidão pode este estado de vazio e silêncio eternos. Lembremo-nos de que “tivemos” uma inexistência eterna sem sofrimento algum – sem o desejo que se tem hoje de renascer para esta vida miserável. Voltaremos à inexistência eterna onde estaremos livres de todas as desventuras, por que é o destino de todas as criaturas voltarem ao criador – tudo deverá voltar ao “todo”. Há um evento no cosmos de contração e expansão. E embora se observe alguma massa contraindo-se e expandindo-se hoje, estas condições aconteceram a milhares de anos de separação uma da outra, dificultando o percebimento de o universo estar contraindo-se expandindo-se. È possível até que ambas condições estejam ocorrendo simultaneamente.

Se por ventura houvesse consciência após a morte, o homem sensato não mais gostaria de voltar aqui para passar por tudo o que passou. Ainda que deus lhe pedisse, por certo relutaria em aceitar tal proposta. Para a mente cósmica, a consciência de vida e morte não faz diferença alguma.

A vida que todos compartilhamos tem-se mantido durante séculos porque utilizou-se sempre de métodos vários, mas que basicamente têm a mesma face. A vida subjetiva não necessita de padrões; ela é sem causa, e a sua própria razão. Temos que ser “a nossa própria luz”, para que haja o sentido real do viver.

Utiliza-se do intelecto ou memória para resolverem situações psicológicas, quando o acompanhamento das expressões interiores, através da introspecção silenciosa e passiva, as exterminariam radicalmente, com simplicidade e segurança, livrando-nos da impropriedade do método intelectual ou analítico. Este pode aliviar, mas não resolve a crise. Os conhecimentos são necessários na resolução de questões objetivas; em questões subjetivas não funcionam – o abstrato é o não-fato e este em nada se relaciona com as situações reais. A humanidade está tão convencida de que as informações resolvem tudo – apesar das desgraças vigentes não solucionadas por elas – que dificilmente algum ser humano tomará iniciativa de abandoná-las psicologicamente. Tornou-se natural o raciocínio com base em abstrações, ao invés da percepção e constatação pessoal dos fatos.

Ouvi certa vez, após término da guerra do Vitnam por um radialista, que os vietnamitas estavam desesperados por não saberem como sobreviver num estado novo de paz, por terem perdido as oportunidades dos saques aos despojos dos inimigos em combate. Também estavam desolados pela falta de expectativa pelos momentos imprevisíveis de ataques aéreos e do silêncio das sirenes que os alertavam dos bombardeios iminentes. Conviviam tão conformados com suas desditas que ao se lhe imporem a paz, tornaram-se desprovidos de suas razões de viver. Assim, está a humanidade tão envolvida com os esquemas informáticos que nunca lhe passou pela cabeça a idéia de esvaziar a mente deste lixo tradicional e viver o estado pleno de meditação, onde a visão intuitiva percebe incontinenti, sem a mínima carência de apelar para a memória, tudo o que deverá ser realizado, sem dramatização e sem medo.

A confusão mental só terá o seu fim quando num relance perceber-se a futilidade de tudo aquilo que nos deram como herança genética e intelectual. Quando libertar-nos das autoridades psicológicas: mestres, salvadores, filósofos, enfim, as autoridades intelectuais, e por fim, passarmos a ver por nós mesmos por todos os movimentos que nos circundam a todo instante quer morais ou físicos. Com a mentalidade do condicionamento dos padrões sociais, da mídia e da própria experiência, tem-se então a oportunidade de começar a aprender. Esse aprender é o autoconhecimento, o movimento eterno em direção ao infinito.

Este é um livro que será publicado, neste espaço do site Usina das Palavras, com direitos reservados ao autor, Josias Nunes Silva, sob Registro, Rio de Janeiro, 2002, em capítulos de 01 a 11. Tamanho A5 (148,5mmx210mm), 64 páginas.

Postado por Marco Antonio de Cádiz e Luís da Velosa

Nenhum comentário: