As torres e os adeuses

Evitarei falar o óbvio, de tudo o que sobre o assunto todos sabem e alguns nem querem mais saber. Este é um aniversário diferente daqueles em que se comemora com alegria o dia de fatos reais. Hoje há uma tristeza indizível. Deste sentimento é difícil de dizer, de expressá-lo na sua cruel completude... E o que se sentiu foi numa manhã ensolarada, quando o nosso ânimo tende a nos levar até o fim do dia. Sobrevivos. Afinal, adormecemos e acordamos para viver de novo... Mas, naquele dia, parecia-nos ser o último. Uma dor terebrante nos invadiu, irretroativa para a lenidade. Não passaria mais, não seríamos mais os mesmos, os três mil, ou mais, ou menos, não importa quantos. A dor, sim, esta era uma, somente uma bastante para sentirmos e passarmos por uma experiência surpreendente, nunca vista, jamais vivida. A surpresa, os contatos, os gritos e sussurros, as almas agônicas, o barulho das turbinas, os choros, os adeuses, os “eu te amo”. Não pensemos agora em nada. Sequer as causações, as razões (que um homem santo dizia ser a imperfeição da inteligência), nos bons ou maus homens. Pensemos, sim, na insensatez, no paroxismo dos desesperos, na hipertrofia das mágoas, das crenças... Reflitamos, hoje, no vale, aquele de que nos fala o Salmo. E como a uma bóia num naufrágio, nos agarremos no que pode salvar-nos, aplacar o nosso sentimento de impotência, vulnerabilidade, leveza.

Bahia, 11 de setembro de 2008.

Marco Antonio de Cádiz

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