O 15 DE NOVEMBRO DE 1825

Sabem os historiadores que a independência do Brasil, na verdade, não aconteceu no dia 7 de setembro de 1822. Não. Por razões de ordem diplomática, tidas como de grande espaço na história das nações. Portugal, através de um decreto, reconheceu, definitivamente, “a legitimidade desse império novo, autônomo, que a audácia galharda dom Príncipe moço criara na América.” A quem o Brasil devia essa legitimidade? A Portugal? Mais adiante, conheceremos o real protagonista desse fato que forjou o destino da nossa Nação.

Quando D. Pedro I, inspirado pelas razões que invadem a alma dos poderosos, proclamou a independência do Brasil do jugo português, quem era a mais poderosa das aliadas de Portugal? A Inglaterra que, há sete anos, havia derrubado o império napoleônico. Então, D. João VI acreditava que as canhoneiras inglesas ajudariam na sedimentação do império brasileiro.

D. João VI esquecera de que a Inglaterra sempre foi um país pragmático, curtido pelas injunções da guerra de conquista, inclusive com os exércitos do corso mais poderoso do mundo. E esse senso prático brotou das mentes mais sagazes da “rainha dos mares”. Tratava-se de uma dívida financeira, o que mudou drasticamente o curso da história e atingiu, surpreendentemente, inclemente, contundentemente, a legitimidade do ato heróico do jovem Bragança.

Naqueles dias, o Brasil espocava de júbilos pela causa da independência. Na Bahia, as forças do General Madeira, derramavam os seus esforços para vencer o que restara de resistência, em defesa de sua terra. Fora vencido! Os Estados Unidos reconhecera, imediatamente, a independência. Mas, a Inglaterra não esquecia do tratado de comércio que celebrara com o Brasil - e queria tirar proveito – que logo, em 1823, teria o seu prazo esgotado. Nada mais proveitoso, então, do que renovar o protocolo com o novel império. Além do mais, outros agravamentos chamariam a atenção dos inglêses, como por exemplo as intenções de Metternich que, em nome da Áustria, com a sua argúcia, logo reinvindicaria, para aquele reinado, o vantajoso tratado de comércio, considerando a pretensão de Francisco Leopoldo, que pugnaria pelo trono da América para a sua filha, por interesses familiares.

Havia, entretanto, um problema seríssimo. O Brasil devia à Inglaterra, 1.400.000 libras, uma importância respeitável. Logo, as reuniões de diplomatas dos respectivos reinos, Inglaterra e Portugal, se sucediam, frenicamente, em Londres. Ninguém se entendia. Parecia que jamais haveria acordo. Assim, diante do impasse, o primeiro Ministro Canning, resolveu enviar Sir Charles Stuart, representante parlamentar em Lisboa, para entender-se, diretamente, com D. João VI.

Diante do rei de Portugal, disse Stuart:

“A Inglaterra está resolvida a reconhecer as repúblicas americanas e não pode excetuar o Brasil. Este tem direito de tomar assento entre as nações livres e já os Estados Unidos trocaram com D. Pedro diplomatas para representarem os respectivos países. Não pode a Inglaterra sacrificar as suas conveniências, e deixar a grande república tomar a dianteira nos negócios políticos e comerciais. O Governo inglês, portanto, considera terminada a questão do reconhecimento do Brasil. Seguirá para o Rio de Janeiro Sir Charles Stuart, em caráter diplomático, a fim de negociar com D. Pedro um tratado amistoso que muito interessa à Inglaterra. Aproveite Sua Majestade a perícia do negociador para um entendimento com o filho, de modo a finalizar a guerra. Se o Rei de Portugal não ouvir estes conselhos, o governo inglês abandona-lo-á na luta: e, sem mais considerações, declara que reconhece a independência do Brasil”.

O plenipotenciário inglês obteve de D. João VI – diante das altercações inglesas e das desavenças internas em Portugal – plenos poderes para entabular negociações com D. Pedro, inclusive para preservar e manter a independência do Brasil que, àquela altura, estava em perigo de consolidar-se.

Recebido por D. Pedro, Stuart, expôs-lhe tudo o que havia ocorrido. O jovem D. Pedro, ciente da gravidade daquele qüiproquó (eram dois milhões de libras=1.400.000+600.000, esta destinada a indenizar bens que D. João deixara no Brasil), reuniu o Conselho de Ministros, chamando o Visconde de Barbacena e transmitiu-lhe a encrenca. Em princípio, o gabinete Visconde Barbacena ficou encolerizado, claro, com o ultimato da Inglaterra, dizendo que era um recuo, que estavam pagando com dinheiro o sangue derramado, etc. Um vozeio se instalara. A certa altura, indignada, uma voz se levantou: “Se Portugal quiser reconhecer o novo Império, reconheça. Se não quiser, paciência!”. D. Pedro, ponderou:

- Mas, nesse caso, Senhor Ministro, a Inglaterra intervém; veja a gravidade disto: a Inglaterra, que é hoje toda poderosa, intervém a favor de Portugal!

Disse alguém:

- E que mal há nisso, Majestade?

- Que mal há nisso?

- Sim, Majestade, tornou o ministro com espavento; que mal há nisso? Se a Inglaterra intervier, Majestade, nós nos bateremos contra a Inglaterra! Nós nos bateremos até à última gota de sangue!

D. Pedro, diante dessa patriotada bestial, irritou-se, ao seu estilo, profundamente! Naquele tempo, muito novo, como poderia o Brasil sustentar uma guerra contra a Inglaterra, “o país mais rico e mais forte do mundo! O Imperador não se conteve:

- Mas enfrentar com o quê, Senhor Ministro? Nós não temos nada... Enfrentar com o quê?

- Enfrentar de qualquer jeito, Majestade?

- Mas, enfrentar de que jeito, Senhor Ministro? De que jeito? Só se for com...

E como era do seu temperamento, em pleno Conselho, disse uma palavra chula... E ordenou o pagamento de dois milhões de libras à Inglaterra. E, assim, com a volta de Sir Charles Stuart e a notícia da quitação da dívida monumental, a 15 de novembro de 1825, em Lisboa, D. João VI reconheceu a independência do Brasil. Foi assim!

Marco Antonio de Cádiz

Referência:

SETÚBAL.PAULO. As Maluquices do Imperador. Edição Saraiva, 1949. p. 91-102.

Um comentário:

Unknown disse...

Paulo Setúbal é um autor humorista, não serve de referência para textos históricos.
Tudo o que ele escreveu é engraçado, mas não passa de caricatura. Está na hora de começarmos a tratar com respeito a História de nossa Pátria, e honrar o sangue derramado por aqueles que lutaram pela nossa Independência. []s.